segunda-feira, 30 de maio de 2011

Capítulo 2

Nada mais para pensar a partir daquele primeiro dia, quando um homem pacato, um pastor em uma pequena igreja em João Pessoa, teve que cravar um machado na cabeça de uma ovelha. Eu parecia estar dentro de um filme de Romero. Sim, o apocalipse zumbi aconteceu no mundo real, e temos ao nosso alcance todos os níveis de informações necessários para uma boa chacina de desmortos. Nunca pensei que o sobrenatural seria tão natural aos meus olhos, e não pensava que era tão complicado matar um zumbi, já que ossos, carne e nervos são muito difíceis de se cortar com um machado. Aos poucos vamos nos aprimorando, aprendendo a usar armas diferentes, até nos permitimos nos entreter em alguns momentos.

Mas não no primeiro dia, quando todos à sua volta estão transformados em desmortos e você acha que é o último ser humano vivo na terra. Sem mais esposa, sem mais filhos, sem mais pais. Apenas dentes, vísceras e carne podre vindo em sua direção, e nada mais faz sentido. A praga levou de mim Lenora, minha mulher, que tive que esfaquear na cozinha até a morte definitiva. Levou Augusto, meu filho, um bebê no berço, em cuja cabeça eu cravei a mesma faca com que havia matado sua mãe. Naquele primeiro dia aprendi que as palavras que eu usava como pastor de ovelhas no altar, durante os casamentos, são mais que verdadeiras. “Até que a morte nos separe”. A morte separou Lenora de mim, levou embora Augusto e levava embora todos meus vizinhos e amigos. Não encontrei um sobrevivente sequer no primeiro dia, mas sabia que haveriam bolsões de vivos em algum lugar, e, depois de ler tanta literatura nerd, Kirkman e Adlard, Romero, Robert Rodriguez e Zack Snyder, eu fazia uma ideia do que tinha que fazer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário