Do outro lado da cerca eu já havia chamado a atenção de três desmortos, que vinham em minha direção. Um homem negro, de seus trinta e poucos anos, uma velha arcada e um guri de seus 12. Calmamente peguei o bastão de beisebol e o preparei. O primeiro a cair foi o negro, com um empurrão simples no peito. Eu precisava de espaço para derrubar os outros dois, que foram muito mais fáceis. Nunca agi com violência com outras pessoas. Enquanto pastor, sempre acreditei na máxima de dar a outra face para bater. Era um incentivador da paz.
No entanto, como diria Maquiavel, é impossível evitar a guerra, você só consegue adia-la, e ali estava a guerra, diante de mim, a guerra pela vida contra aqueles que já não são vivos. Uma guerra que, apesar de nenhum de nós querer lutar, precisa ser lutada a todo custo, com empenho.
Apesar de um incentivador da paz, não via lógica em manter vivos aqueles que já haviam ido embora. Levando em conta que suas almas já não deveriam estar ali, presas naqueles corpos, e se estivessem, deveriam estar em profundo sofrimento, mata-los de vez era um favor para eles e para Deus. Por isso bati na cabeça da senhorinha com vontade, enterrando o bastão até a altura dos olhos e espalhando sangue por todos os lados. Respingado, ainda consegui limpar o rosto antes de chegar a vez do menino de doze anos.
Antes de bater, olhei bem para o rosto do zumbizinho. Pobre criança consumida pelos desmortos. As marcas de mordidas estavam nos dois braços e as vísceras estavam para fora, pretas e tomadas por bichos. Quantas desilusões haviam sido tiradas daquela criança? Provavelmente muitas. Toda a adolescência, espinhas, insegurança, bulling, amores platônicos, desejos de crescer, faculdade, primeiro beijo, primeira vez, tantos erros, discórdias e dificuldades.
Ficou bem mais fácil bater na cabeça dele depois de pensar tudo isso.
Antes que o negro levantasse, puxei o 38. Nenhum zumbi no perímetro de visão, o que faria com que nenhum viesse em nossa direção. Precisava experimentar o coice da arma, sentir seu peso e entender como ela funcionava. Segurei com as duas mãos, apontei para a cabeça e apertei o gatilho. O cão encostou na bala e deflagrou o projétil, que avançou por dentro do cano da arma, gerando um coice forte, que fez meus braços virem para trás ao mesmo tempo que a cabeça daquele ex-homem foi atingida e atravessada pela munição. Seu corpo caiu para o lado, morto de vez, enquanto eu admirava, ainda, a arma, fumegante, em minhas mãos.
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