Senti medo de gostar daquilo. Medo de quem eu poderia ter sido, caso não encontrasse outros caminhos. Sempre fui fraco para qualquer coisa. Nunca coloquei um cigarro na boca porque nunca tive curiosidade, mas sabia que se o fizesse, não ia conseguir mais largar o vício. A bebida foi mais difícil do que eu imaginava. Quando jovem, porres feéricos, como diria Lobão, que foram sendo substituídos por uma vida mais ascética. O controle do peso era difícil, sempre uns quilinhos acima do ideal. Eu queria me dar os pequenos prazeres da vida, comer, beber, fazer amor. A juventude é feita disso, também.
Encontrei outro caminho, mas e se tivesse seguido uma vida desregrada? Será que ainda estaria vivo para contar história? Nas últimas semanas havia sido a disciplina a conduzir meu eu. Acordar no mesmo horário, evitar as luzes acesas à noite, evitar barulho e confrontos, fazer exercícios, desenvolver estratégias. Se eu fosse alguém desregrado certamente sairia na rua a esmo, ou, se fosse acomodado, teria ido para o Almeidão atrás de proteção do governo. Um bolsa-família para continuar vivo... Não.
Cuidei de meu próprio destino, e enquanto entrava no shopping, guardando o 38, para não ceder à tentação de me ver com a arma nas mãos de novo, pensei que este era o melhor jeito de me conduzir. Diferente da maior parte das pessoas, que agiam por ímpeto, aquele que age com disciplina, atenção e cuidado consegue alcançar objetivos de longo prazo.
Fiz planejamentos para toda uma vida ao lado de Lenora e Augusto. Viagens, passeios, a educação dele, plano de saúde. Durante aquela semana tinha parado para olhar o tanto de cartões inúteis haviam agora na minha carteira. do cartão de crédito para compras ao cartão de afinidade da assinatura do jornal. Para que tudo isso? Em casa, em uma cestinha sobre a cômoda da cozinha, ficavam as contas, que ultimamente, por um golpe de sorte do destino, não se acumulavam mais. Cartões, contas, isso não importava mais. Planejamento tinha outro significado. Se, por um lado, todo o meu plano de vida tinha ido por água abaixo, por outro, meu plano de sobrevida precisava dar certo.
Planejamento, disciplina. Tudo isso, durante minha vida havia me levado ao ponto onde eu estava no mundo dos vivos. Uma conta de banco razoavelmente tranquila, duas viagens internacionais a passeio, duas a trabalho, as próximas férias programadas para serem passadas em Buenos Aires, onde eu e Lenora havíamos estado brevemente no passado, uma cidade que queríamos ver novamente. Tudo planejado. E nada aconteceu. Era supérfluo? Ao contrário, era importante. Foi Buenos Aires que restaurou nosso casamento durante a grande crise que enfrentamos em nossa união, e foi um dos momentos mais bonitos da minha vida.
A Disciplina poderia me levar de volta a viver em um mundo normal? Não. Porém, emprestava certa normalidade ao mundo louco que me cercava, me forçando a pensar em diversas coisas que não fossem os mortos-vivos do outro lado dos muros. Só assim eu havia conseguido sobreviver tanto tempo no mundo perdido. A disciplina estava me salvando, e me conduzindo.
Cuidei de meu próprio destino, e enquanto entrava no shopping, guardando o 38, para não ceder à tentação de me ver com a arma nas mãos de novo, pensei que este era o melhor jeito de me conduzir. Diferente da maior parte das pessoas, que agiam por ímpeto, aquele que age com disciplina, atenção e cuidado consegue alcançar objetivos de longo prazo.
Fiz planejamentos para toda uma vida ao lado de Lenora e Augusto. Viagens, passeios, a educação dele, plano de saúde. Durante aquela semana tinha parado para olhar o tanto de cartões inúteis haviam agora na minha carteira. do cartão de crédito para compras ao cartão de afinidade da assinatura do jornal. Para que tudo isso? Em casa, em uma cestinha sobre a cômoda da cozinha, ficavam as contas, que ultimamente, por um golpe de sorte do destino, não se acumulavam mais. Cartões, contas, isso não importava mais. Planejamento tinha outro significado. Se, por um lado, todo o meu plano de vida tinha ido por água abaixo, por outro, meu plano de sobrevida precisava dar certo.
Planejamento, disciplina. Tudo isso, durante minha vida havia me levado ao ponto onde eu estava no mundo dos vivos. Uma conta de banco razoavelmente tranquila, duas viagens internacionais a passeio, duas a trabalho, as próximas férias programadas para serem passadas em Buenos Aires, onde eu e Lenora havíamos estado brevemente no passado, uma cidade que queríamos ver novamente. Tudo planejado. E nada aconteceu. Era supérfluo? Ao contrário, era importante. Foi Buenos Aires que restaurou nosso casamento durante a grande crise que enfrentamos em nossa união, e foi um dos momentos mais bonitos da minha vida.
A Disciplina poderia me levar de volta a viver em um mundo normal? Não. Porém, emprestava certa normalidade ao mundo louco que me cercava, me forçando a pensar em diversas coisas que não fossem os mortos-vivos do outro lado dos muros. Só assim eu havia conseguido sobreviver tanto tempo no mundo perdido. A disciplina estava me salvando, e me conduzindo.
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