Chorei.
Pela primeira vez, desde o início de tudo isso, chorei. Chorei por não me sentir no direito de sobreviver enquanto eles haviam morrido. Chorei por causa de toda a frieza com que me conduzi durante os últimos dias. Chorei por não ter me dado o direito de chorar, de sequer pensar no que estava acontecendo com o mundo.
Chorei por achar algo tão comum como comer com outras pessoas algo extraordinário e lembrei de quantos almoços e jantares me neguei a ter com minha mulher por estar trabalhando. Pensei em quantos momentos bons deixei de viver ao lado dela em detrimento das minhas “obrigações eclesiásticas”. Lembrei de cada briga e discussão resultante de minha ausência. Lembrei de tudo isso e chorei diante daquelas pessoas que ficaram em silêncio consternado e respeitoso diante de um pastor.
Cobri o rosto com as mãos. Não queria ser visto chorando. Não queria ser notado. Eu podia aceitar continuar vivendo em um mundo sem Lenora, desde que este mundo fosse algo sem perspectivas, triste. No entanto, não era justo com ela que eu estivesse aqui enquanto ela estava morta enterrada ao lado de nosso filho, que não aprendeu a jogar futebol, empinar pipa ou paquerar meninas. Chorei por ele também. Augusto não poderia descobrir um mundo de coisas que aquelas pessoas poderiam proporcionar para quem amavam. Pobre Augusto. A vida lhe fôra tirada pela própria mãe e exterminada por mim mesmo.
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