segunda-feira, 25 de julho de 2011

Livro 3 - Capítulo 1

Sentado, cercado de pessoas comuns, quase sentia algo leve no coração, algo parecido com felicidade, algo que eu não sentia há muito tempo. Coisas simples como o partir do pão, o sorriso do próximo, um olhar, que não o meu no espelho, tudo isso parecia emprestar certo nível de normalidade àquela bestialidade toda que havia tornado nosso mundo em algo morto. Um mundo perdido, sem expectativas de mudança, sem esperanças.

No entanto estava ali, diante de mim, no olhar daquelas pessoas, a esperança de um mundo melhor, uma esperança de reconstrução, de reerguer a sociedade. Um grupo de dez sobreviventes que poderiam recuperar a cidade de João Pessoa, faze-la voltar ao seu normal, receber novos sobreviventes. Eu poderia me dar o direito da esperança. Eu poderia me dar a chance da felicidade. A felicidade sem Lenora e sem Augusto.

Não me sentia no direito de ser feliz após ter feito o que fiz. Enquanto tentava morder o sanduíche, lembrei que meu filho nunca saberia qual é o sabor disso, e que minha esposa não reclamaria comigo por causa do colesterol. Lembrei que os dois tinham ido, deixado de existir. Lembrei que eu os havia matado.

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