Naquele momento, na rua Dom Pedro, cheia de zumbis, andei devagar. Fazia o mesmo som que eles. Me movia como eles. Um ou outro ainda me olharam, mas ficou nisso. arrastando os pés e gemendo e grunhindo, fui devagar pelo canto da rua. Passei pela casa antiga, que estava com o muro derrubado, que um carro tinha entrado até o meio. os corpos do motorista e do passageiro ainda estavam lá, revividos. Alguns zumbis invadiam outros carros pela janela para comer a carne de pessoas mortas nos veículos. Passei pela adega ao lado da delegacia e vi tudo revirado. Zumbis não bebem, mas as pessoas que eles perseguem, sim. Me prometi passar ali na volta e buscar umas garrafas de vinho para beber mais tarde. Cheguei à delegacia, um sobrado dos anos 70, de porta alta, colado no prédio da adega. uma sacada por cima e uma laje projetada que chegava até a adega. Entrei devagar, sem chamar atenção dos desmortos fechei a porta atrás de mim devagar, trancando. Olhei em volta e tudo parecia tranqüilo.
Ledo engano. Ao entrar no corredor que dava acesso às salas dos fundos e à escada para o andar superior, um zumbi me encarava com aqueles olhos mortos e um cheiro de podridão. Estava muito perto. Não deu para fingir que era um deles, e o espaço do corredor era muito pequeno para bater nele com o machado. O desmorto pulou para cima de mim com os dentes amarelos expostos e uma força que extrapolava o natural, me jogando no chão e caindo por cima do meu corpo. Fui me arrastando até ter um pouco mais de espaço, enquanto ele, por cima, tentava me morder, sem sucesso. Era um policial e havia sido mordido no peito até as costelas. A camisa puída estava rasgada no ponto da mordida. Lembrei, na mesma hora, de uma policial da delegacia de homicídios que eu conhecera na época que era repórter. Renata. Será que ainda estava viva? Será que estava bem? Pensava nisso com o desmorto por cima de mim.
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