Eles pareciam espertos, sem contar que eram os primeiros vivos que eu via em quase um mês. Já estava pensando em arranjar uma bola de vôlei para chamar de Wilson e tudo. A iminência de contato com vivos foi mais forte que a necessidade de segurança e me prometi que, no dia seguinte, encararia um pequeno passeio até o Manaíra Shopping. Para quem não agüentava mais ficar parado, era uma ótima desculpa.
Sabia que a viagem duraria uns dois ou três dias, o que seria uma experiência positiva, já que seria a primeira vez que eu dormiria fora de casa desde o apocalipse. Na verdade, era a primeira vez em anos que eu dormia fora de casa. Mais do que amedrontado, eu estava excitado com a ideia de ter que procurar abrigo, segurança, alimento e sobreviventes no meio do caminho. Preparei a mala com tudo o que precisava. Os cacetetes, a Glock, munição, comida enlatada. Com o GPS, desenhei a melhor rota para o shopping, mais curta e menos habitada. Um dos caminhos passava por Mandacaru, o bairro mais populoso de João Pessoa. Vesti o poncho de guerra, coberto de sangue e restos de desmortos e saí novamente à rua. Desta vez, provavelmente, para não voltar à casa tão cedo. Ou talvez, mesmo, nunca mais.
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