segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Livro 3 - Capítulo 14

O sangue pingava do pulso dele, que olhava desesperado para a ferida. Cheguei perto para ver o que havia acontecido. A mordida era profunda e Lúcio já ardia em febre e a ferida começava a necrosar.

_ Pastor, eu sei o que vai acontecer.

_ Eu não sei o que dizer, Lúcio. Não sei mesmo.

_ Faz tempo que o senhor começou a duvidar de milagres? Hehehe... eu mesmo poderia dizer que creio, mas não sei. Tudo o que sei é que estou morrendo e não quero este destino para mim.

Claudemir chorava ao meu lado. Lúcio o olhou.

_ Calma, Claudemir. Isso é só uma mordida. Nada demais. Um cachorro faria mais estrago.

Ele tossiu. Eu queria saber quanto tempo demorava a transformação, mas não queria expor Lúcio àquele risco. Sua pele já estava pálida e seus olhos fundos. Ele queimava em febre e transpirava muito. Na ferida, comecei a ver os primeiros sinais de necrose, tecido morrendo e cheiro forte de sangue podre.

_ Lúcio, você quer que nós façamos alguma coisa?

Ele olhou para a minha arma.

_ Você quer dizer... se eu quero que algum de vocês me mate?

_ Isso.

_ Suicidas não vão para o céu, pastor.

_ Lúcio... com tudo o que está acontecendo, vocẽ ainda acha que existe um céu?

_ Ah, pastor Ernesto... você ainda acha que não? Você sempre falava que Deus nos provava de formas diversas. Você acha que isso tudo não é uma prova? Isso vai contra tudo o que pensávamos que era certo, mas as razões de Deus são mais profundas que as nossas, não são? Não entendemos seus desígnios. Eu ainda acredito em um céu e um inferno, Ernesto, e sei que Deus está me esperando no céu. Eu me arrependo de meus pecados. Ore por mim, pastor. Por favor, ore por mim.

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