Eles me olhavam calados enquanto eu falava. Expliquei que qualquer experiência humana de confinamento acabava mal. Precisávamos de espaço, mas também de segurança. Enquanto estivéssemos ali, tínhamos o espaço, mas faltava a luz do dia, a segurança em todas as portas, que, mais cedo ou mais tarde, podiam acabar cedendo à sanha dos desmortos.
_ Claudemir, tem muitos deles nas redondezas?
_ Uns tempos atrás eu fiquei lá em cima e contei quase duzentos, andando entre os carros, nas calçadas, alguns olhavam para dentro do shopping, vinham até o portão, entravam. Tem alguns ainda no estacionamento.
_ O estacionamento térreo tem quatro entradas para o shopping. Precisamos concentra-los em uma destas entradas para que possamos usar as outras como rota de fuga.
Marcos, esposo de Angélica, questionou o plano.
_ Espera aí... porque apenas não ficamos aqui dentro? Não precisamos sair coisa nenhuma. Esta estrutura aguenta o tranco. Podemos continuar aqui. Temos todo o conforto que precisamos.
_ Só que, mais cedo ou mais tarde, a comida vai acabar. Nós vamos ficar nervosos uns com os outros e vamos acabar fazendo besteiras. Sem contar que aqui não temos condições de fazer crescer nosso grupo. Só tem um jeito de ter sucesso em uma guerra contra zumbis e é contar com vantagem numérica, limpar um espaço, levantar um perímetro grande e seguro e começar a habitar aquele perímetro, sempre ampliando-o.
_ Isso é loucura. Você fala como se essa situação fosse definitiva.
_ Olha em volta, Marcos. Você acha mesmo que as coisas vão mudar? Acostume-se com o fato de que zumbis são de verdade e agora mandam no mundo.
Marcos ficou em silêncio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário