O térreo estava tomado por zumbis. Os grunhidos e gemidos que emitiam ecoavam pelos corredores vazios do primeiro andar e chegavam à praça de alimentação e às lojas onde estávamos abrigados. Eu não enxergava alternativas além de nossa saída dali. A presença deles, seu cheiro, impregnando a comida, o som de suas vozes se sobrepondo à música de elevador que tocava, tudo ia tirando-nos do sério. Havia apenas dois dias que eles haviam invadido o térreo. Já havíamos limpado os corpos e tentado diminuir a sujeira nos corredores, mas tudo continuava igual e o número de zumbis ainda continuava crescendo.
A primeira coisa que fizemos foi mudar da praça de alimentação para o andar dos cinemas. as portas de acesso ao cinema eram mais reforçadas e havia mais rotas de fuga que os desmortos ainda não haviam alcançado. Nos fundos do cinema, uma saída de incêndio dava pleno acesso à cidade. saíamos de frente para o viaduto da BR, virando à esquerda e correndo cerca de cinquenta metros já estávamos em ruas limpas de zumbis, onde poderíamos andar calmamente.
No primeiro piso, Marcos olhava por um parapeito quando cheguei ao seu lado.
A primeira coisa que fizemos foi mudar da praça de alimentação para o andar dos cinemas. as portas de acesso ao cinema eram mais reforçadas e havia mais rotas de fuga que os desmortos ainda não haviam alcançado. Nos fundos do cinema, uma saída de incêndio dava pleno acesso à cidade. saíamos de frente para o viaduto da BR, virando à esquerda e correndo cerca de cinquenta metros já estávamos em ruas limpas de zumbis, onde poderíamos andar calmamente.
No primeiro piso, Marcos olhava por um parapeito quando cheguei ao seu lado.
_ Da última vez que contei eram duzentos e trinta.
_ Alguém que você conhecia?
_ Isso é assustador, não é? Pensar que muita gente que eu conheço, inclusive meus pais, meu irmão e minha filha se transformaram nisso... estou com medo, Ernesto.
_ Todos estamos, Marcos. Eu também não quero ir lá fora, mas temos que ir, saber o que está acontecendo, encontrar um lugar mais seguro para nós. A comida é farta aqui, mas vai chegar uma hora que a situação vai mudar e nós vamos precisar encontrar alternativas.
_ Mas isso ainda vai demorar.
_ Mas aquilo ali em baixo não. E por mais difícil que seja para você encarar estes monstros, preciso que esteja menos vacilante do que estava ontem.
Marcos abaixou a cabeça. Ele sabia do que eu estava falando.
_ Desculpe, Ernesto. Não vai acontecer de novo.
_ Espero que não. Todos precisamos de todos aqui. Ninguém é melhor e muito menos pior do que ninguém. Não podemos nos dar o luxo de perdermos as vidas neste lugar. E para garantir minha retaguarda eu preciso de você e de Angélica. E ela tem que entender, Marcos, que não temos alternativa a não ser nos apoiarmos uns nos outros.
Marcos abaixou a cabeça. Ele sabia do que eu estava falando.
_ Desculpe, Ernesto. Não vai acontecer de novo.
_ Espero que não. Todos precisamos de todos aqui. Ninguém é melhor e muito menos pior do que ninguém. Não podemos nos dar o luxo de perdermos as vidas neste lugar. E para garantir minha retaguarda eu preciso de você e de Angélica. E ela tem que entender, Marcos, que não temos alternativa a não ser nos apoiarmos uns nos outros.
Ele olhou para os desmortos e riu.
_ Eu vi meu chefe sendo comido por estes malditos. Só havia duas coisas em que eu pensava no início desta merda toda. A primeira, minha mulher e minha filha. Precisava ve-las, saber que estavam bem. A outra coisa era que eu queria ver aquele porco sendo comido pelos malditos zumbis. Ele era um monstro, e eu vi os zumbis comendo ele, na sala dele, em cima daqueles malditos papéis da receita federal que ele nos obrigava a adulterar. Não vou mentir, Ernesto, eu senti um prazer muito grande de ver aquilo, e saber que ele estava consciente de que eu estava vendo.
Fiquei calado ao lado de Marcos. Aquilo era doentio, mas eu não podia censura-lo. Não tinha o direito de critica-lo. Vivíamos em um mundo novo, afinal de contas, com novas regras e leis. Pensei sobre ter matado Lúcio, ter tirado a vida dele e pensei na pergunta que ele havia me feito. “Você não acredita mais em milagres?” A resposta era um sonoro “não” dentro da minha cabeça, mas em meu coração, ao contrário, ainda queria acreditar.
_ Não conta nada para a Angélica, por favor. Não quero que ela saiba deste meu lado... psicopático.
_ fique tranquilo. Isso morre comigo. Me diga uma coisa... você se sente mal por ter ficado feliz ao ver seu patrão morrer?
Ele pensou.
_ Não. Ninguém merece este destino triste. Mas se tinha alguém que eu não queria neste grupo era ele. Egoísta, só traria problemas para nosso grupo.
_ E sua filha? Como foi?
_ Não fala sobre isso com a Angélica, também... a Julia aconteceu logo no começo da praga, mas ela escondeu da gente. A gente não conseguia se comunicar com ela, e ela ficava trancada naquele quarto. Só notamos quando ela já estava desacordada. Não tive oportunidade de dar tchau prá minha bebê. eu... eu...
Ele desatou a chorar e tudo o que eu podia fazer era consola-lo. Abracei Marcos enquanto ele chorava. Mais que pena daquele homem, sentia uma profunda preocupação com sua alma e com suas mãos, que já carregavam pesos demais.
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