segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Livro 3 - Capítulo 18

Nos dias seguintes expliquei para Renata meu plano. Ela concordou que a melhor opção que tínhamos para sobreviver era encontrar um lugar mais seguro para ficarmos, com menos acessos, uma casa fechada, com muros altos, ou um prédio público que fosse como uma fortaleza.

_ A base da Energisa em Tambauzinho é uma ótima opção, sugeriu Renata.

_ Tem um mangue nos fundos, o que dificulta o acesso, é completamente cercado por muros altos, tem dois portões de ferro grossos, largos e seguros, fornecimento contínuo de energia elétrica e é perto de tudo, eu disse.

_ Só o que precisamos fazer é limpar o perímetro. Em alguns meses podemos ter uns quatro ou cinco quarteirões limpos e cercados, se conseguirmos conduzir a coisa de forma segura, completou Renata.

Alguns elementos do grupo ainda não acreditavam no plano e achavam que ficar no shopping era o mais seguro. Marcos era um deles. Mas eu via que não se tratava da opinião dele, e sim da esposa, Angélica, que sempre resistia ao nosso plano. Ela tinha medo de ir para fora. Patrícia também não se mostrava muito animada com a ideia de deixar o shopping onde ela conseguia coisas tão maravilhosas com as quais se vestir. No entanto eu via, por trás daquele jeito fútil, uma vontade irascível de viver.


Sentei-me do lado dela um dia para saber se minha impressão era real.


_ Como você está?


_ Enquanto estivermos vivos eu estou bem. O importante é continuar vivos, não é?


_ Mas como você ficaria sem todas estas roupas da moda e estas coisinhas que você tanto gosta?


_ Sabe, pastor, eu só uso isso tudo para passar o tempo. Afinal, de que adianta tudo isso? Eu não tenho para quem me vestir. Não tenho amigas para me invejarem, namorado para me desejar, pais para se irritarem com o que eu visto. Isso tudo perdeu o sentido. Mas é o único hobbie que eu tenho, então, vou seguir com isso. Olha para a Janaína. Ela tem o hobbie dela que é cuidar do seu Marcos. Ela tem com o que passar o tempo e ocupar a cabeça enquanto esses monstros tentam nos comer.


_ Fico feliz que você esteja bem. Se precisar de alguma coisa para ocupar a cabeça, pode contar comigo que te arranjo algumas tarefas dentro do grupo. Isso pode ser bom para você.


_ Ok. Se precisar eu estarei por aqui.

Nesta hora eu ouvi um estrondo vindo do térreo. um baque surdo de metal se chocando contra pedra. eram as portas de correr que caíam no chão enquanto uma multidão de desmortos invadia o shopping pelas portas da frente.


A onda confluía para as escadas rolantes. Nas escadas regulares nós já tínhamos feito barricadas fortes e quebrado degraus para impedir o avanço do grupo. Nas escadas rolantes, ao contrário, não tínhamos feito nada.


Angélica e Marcos se recolheram ao andar dos cinemas e ficaram lá enquanto os outros atiravam contra crânios, tentando impedir o avanço dos zumbis. Em um dos corredores, corredores avançavam contra nós. Peguei um taco de beisebol e esperei a chegada de um deles. Alberto, do meu lado, esperava por outro com um machadinho na mão. Batemos quase ao mesmo tempo. a lâmina do machado de Alberto cravou-se na cabeça do desmorto e espalhou sangue, ossos e cérebro por todos os lados, respingando até em mim. Do meu lado, a paulada que eu dei no zumbi não acertou seu crânio, mas seu corpo, projetando-o contra a parede. Dei mais duas tacadas de cima para baixo, para terminar de quebrar a cabeça. a parede branca ficou marcada com sangue preto e pedaços de cérebro podre amarelado. o grupo que vinha depois era de cinco caminhantes.


Ainda não me acostumei a ver estes seres. Continuam sendo, para mim, algo nojento. Não apenas seu cheiro de carne podre, mas sua aparência é repugnante. Lembro que neste grupo que estava vindo havia uma moça que deveria ter sido muito bonita enquanto viva. Cintura fina, seios grandes, coxas grossas. Sua pele era cinzenta e ela tinha feridas abertas por mordidas por todo o corpo. Um dos seios havia sido arrancado e as costelas estavam expostas. metade do cabelo loiro, liso e comprido havia caído e a outra metade estava quase completamente coberta de sangue. Era uma mulher que, no mundo real, teria chamado minha atenção. Agora, arrastando-se no corredor do shopping, emitindo gemidos gruturais, tudo o que atraía era o taco de beisebol que estava em minha mão.



Foi difícil controlar os acessos. Alguns zumbis conseguiram subir ao nosso andar, alcançando a praça de alimentação. Tivemos que destruir as escadas rolantes para ficarmos seguros, mas aí ficamos restritos aos andares superiores do shopping. Não que faltasse espaço, mas nossos recursos começaram a ser mais e mais escassos. Sem contar que a presença opressora dos zumbis no térreo trazia uma série de preocupações como o cheiro podre que subia e o zumbido dos gemidos dos desmortos, que não parava de soar em nossas cabeças.

          Procuramos rotas de fuga alternativas e encontramos uma escada de incêndio que dava acesso para o outro lado do shopping, que não havia sido tomado pelos necrófilos. Tomei a precaução de manter esta escada sempre limpa, com caminho livre até a rua, para que pudéssemos sair o mais rápido possível.

Nenhum comentário:

Postar um comentário