Havia sido um longo caminho até ali. Cerca de dois meses de
apocalipse, a sobrevivência em um shopping, a perda de uma esposa, um filho,
amigos demais, um assassinato, a perda da fé. E ali estávamos nós, um grupo de
sobreviventes com um ferido, um homem em coma, uma mulher em choque e um líder
incerto. Cercados por zumbis por cima e por baixo. Mais romerista que isso,
impossível.
Com a situação começando a voltar ao controle, com as duas
portas de acesso à escadaria vedadas e todos os zumbis de dentro mortos,
Janaína começou a tentar conter a hemorragia no braço de Marcos. Angélica não
olhava no meu rosto. Chorava no ombro de Patrícia enquanto a enfermeira usava
todos os recursos que podia para conter o sangue que saía aos borbotões.
_ Angélica, você sabe qual o tipo sanguíneo do seu marido?
Angélica estava em choque.
_ Angélica, o tipo sanguíneo!
_ B positivo.
_ Alguém aqui tem sangue deste tipo? Ou O negativo? Vou dar
uma de MacGyver e fazer uma transfusão.
Eu e Patrícia levantamos as mãos. Já tínhamos pelo menos um
litro de sangue disponível ali. Assim que ela conseguiu conter o sangramento e
ministrar os anestésicos no braço de Marcos, começou a complexa operação da
transfusão direta.
Este tipo de transfusão consistia em um método direto. Uma
agulha era inserida no braço do doador. A enfermeira fazia sucção com uma
seringa até que o sangue fosse bombeado para as veias do receptor, que estava
na outra ponta da mangueira. Ela fez isso no meu braço sem olhar para mim.
_ Você sabe se isso daria certo, perguntou Janaína para mim
à parte, enquanto colocava a seringa em meu braço.
_ Não sei. Vi isso uma vez em teoria. Se a contaminação se
dá por fluídos, o que eu acredito, tem que funcionar.
_ O indicador não tem nenhuma veia principal que bombeie sangue
com velocidade. Vamos contar com isso. Eu não concordo com o que você fez, mas
não vejo outra alternativa. Obrigado por ser seguro nas horas em que
precisamos.
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