terça-feira, 6 de setembro de 2011

Livro 4 - Capítulo 2


Ao lado do corpo o braço jazia caído. Marcos não tinha mais a mão direita. Renata veio ao meu lado.

_ Você fez o que tinha que fazer.

_ Eu sei. Não me arrependo. O destino dele era se tornar um desmorto. Nunca desejaria isso para o Marcos. Não desejo isso para ninguém.

As horas passavam enquanto Janaína monitorava os dois Marcos. Um deles, em coma desde antes do fim dos tempos, não sabia sequer o que acontecia. O outro, acabara de perder o braço. Um braço que eu havia arrancado.

O corte havia ficado incerto, torto, cheio de falhas. Janaína puxava a pele como podia para fechar a ferida, deixando um duto aberto para escorrer o pus. Naquele momento era tudo o que tínhamos. Esperar não era uma opção, era o único caminho. Tínhamos que esperar. A porta de cima ainda chacoalhava com as batidas do exército de desmortos que esperavam por nós, mas estava bem fechada e lacrada. eles podiam tentar entrar, mas não conseguiriam.

Na porta de baixo, um pequeno postigo mostrava que o número de zumbis diminuía conforme a lembrança de que estávamos ali era cada vez mais distante em seus cérebros desmortos. Cada vez que olhávamos pela janelinha, víamos menos desmortos. Mas eles ainda estavam ali, rondando a porta, o estacionamento, esperando que a carne fresca saísse do forno e caísse em seu colo.

De tudo o que mais incomodava eram os gemidos. Um som grutural que parecia o eco vindo do fundo da alma e da humanidade de cada um dos desmortos. Será que ainda havia alguma humanidade em cada um deles? Olhar para seus olhos e encontrar o desespero da fome incontrolável me fazia questionar isso. Apesar de toda a lividez, ainda havia alguma emoção neles. Ainda que fosse a emoção por buscar a caça, esta emoção havia. Se isso era humano ou instintivo? Nunca saberei, e não insisti naqueles pensamentos naquele momento. Precisava pensar em um jeito de sair dali o mais rápido possível.

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