quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Livro 4 - Capítulo 7


Patrícia começou a ficar para trás com o intuito de atirar nos zumbis que se aproximassem mais. Das outras ruas, conforme o grupo avançava, vinham outros mortos, que aumentavam a manada que nos seguia. Na terceira quadra, a manada já era de cerca de 50 desmortos seguindo-nos. Patrícia atirava em alguns que estavam mais perto. Me perguntei como ela havia desenvolvido aquela pontaria.

Depois da nossa conversa, fiquei pensando em toda a agressividade que, por conta da imagem de boa menina, ela teve que guardar para si. A via atirando sem piedade, com uns olhos frios e senti medo de que ela viesse a fazer alguma coisa contra si mesma. Senti medo que ela não quisesse mais viver, que não sentisse mais vontade e necessidade de seguir adiante.

Nunca sabemos até quando nossa vontade de sobreviver pode ir. Todos temos limites, e em uma situação como a que estávamos vivendo, os que tinham limites mais baixos eram os que estavam nos perseguindo. Pessoas que se entregaram, que morreram, foram pegas de surpresa por entes queridos que haviam sido convertidos em formas desmortas de comer carne viva. Gente cujas vidas tinham sido provadas e que não haviam passado no teste de sobrevivência pelo qual Patrícia, naquele momento, passava.

Eu ainda tinha muitas dúvidas em relação a muitos elementos do grupo. Como Marcos reagiria quando acordasse? Já não carregava peso demais com duas mãos para o fazer com uma só? Angélica me odiava naquele momento, eu sabia, sentia, mas sabia, também, que, assim que estivesse segura, pensaria bem no que estava dizendo naquela hora.

Mas quem ainda mais me preocupava era Renata. Eu sabia que a postura de segurança era a mesma que eu usava quando estava na defensiva e ela estava na defensiva. Patrícia, então, aquela frieza conquistada nas últimas horas teria um preço para seu coração e este preço poderia ser o descuido proposital, um desapego da vida. Dores de amor são comuns, mas neste mundo de desmortos são as dores que mais machucam. Mais que qualquer mordida.

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